Reportagem

Na Valorsul lixo é aproveitado

Sabia que o lixo que produzimos diariamente e do qual nos queremos livrar o mais depressa possível é uma mais valia para a Valorsul? É verdade. Aquilo que para si já não tem valor e por isso deitou fora, na Valorsul volta a ser um recurso, uma matéria prima capaz de se transformar numa nova caixa de cartão, numa nova garrafa de vidro, em energia eléctrica, fertilizante para a agricultura ou em materiais para a construção de uma nova estrada. O EXPRESSO do Oriente esteve à conversa com Fernando Queirós, o administrador-delegado da Câmara Municipal de Loures na empresa, que nos revelou “as maravilhas” de uma incineradora amiga do ambiente.

– Assumiu o cargo de administrador da Valorsul há cerca de um ano e meio. A nomeação surpreendeu-o?
– Penso que foi uma consequência natural do meu percurso até então, da experiência acumulada na área ambiental. Sempre me interessei pelas questões ambientais, para além de ter sido vereador do Ambiente em Loures. Em Portugal fui das primeiras pessoas, até dentro do meu partido, a preocupar-me com as questões ecológicas e do ambiente… Na época fui maltratado, era acusado de ser esquerdista, utópico, e hoje, olhando 30 anos para trás, dá vontade de rir…
– Muito mudou entretanto…
– Pela positiva. Há 30 anos era preciso acabar com as lixeiras, e hoje já ninguém fala delas. Reconheço o trabalho de José Sócrates que enquanto Ministro do Ambiente acabou com as lixeiras em dez anos. Ainda estamos muito longe dos países mais avançados da União Europeia em questão de sensibilização ambiental, mas não tenho razões para ser derrotista. Se nos compararmos com os países mais avançados não nos envergonhamos.
– Desde que está na Valorsul quais têm sido os seus maiores desafios?
– Tenho assumido cada vez mais responsabilidades. Comecei por responsabilidades menores, e hoje coordeno quatro das cinco unidades da Valorsul, para além des ser responsável pelas obras de beneficiação ambiental que fazemos em todos os concelhos, tais como as piscinas de Santa Iria da Azóia e do Parque Urbano de São João da Talha. Tenho projectos muito importantes que estão a decorrer neste momento na Amadora com o encerramento de uma antiga lixeira. Destaco ainda um novo equipamento que está em linha de montagem e que irá permitir aumentar o tratamento de lixo de 1,6 toneladas por hora para 5,5. É talvez das mais avançadas do país. Espero que esta obra esteja concluída dentro de um mês. Assim poderemos tratar mais reciclados, ter maior receita, e menos despesa para o munícipe. Esta é uma orientação da Valorsul, não estamos preocupados com o lucro, mas em manter o equilíbrio. O objectivo é sempre baixar as taxas do munícipe e dos municípios.
– E têm conseguido baixar as taxas?
– Sem dúvida. Em todas as taxas do país esta é a mais baixa e em alguns casos menos 50 por cento. É fruto de muito trabalho, apesar de, e volto a referir, o propósito da Valorsul não é o lucro. Não é nossa política aumentar as tarifas, por isso só há um caminho a seguir, rentabilizar para reduzir os custos. É a única maneira que temos de não afectar a população.
– Como é que a Valorsul valoriza o lixo?
– A central incineradora de São João da Talha queima o lixo que ao ser queimado provoca gases que colocamos numa turbina e gera electricidade. A electricidade produzida dá para alimentar uma cidade com 150 mil habitantes, mas nós vendemo-la à EDP, uma das empresas accionistas da Valorsul que depois a distribui.

– É um defensor da incineração, um assunto ainda muito polémico.
– A incineração continua muito polémica porque há uma grande desinformação. Costumo comparar Portugal com a Suiça, onde há uma grande consciência ambiental, é um país mais pequeno, menos populado e no entanto tem 28 incineradoras. Portugal tem três, a Valorsul, uma no Porto e outra na Madeira, e eu pergunto: Será que temos melhor ambiente do que na Suiça? Então vão lá e vejam. Será que eles não se preocupam com as questões ambientais? Eu acho que sim. Em vez de incineradoras temos mais de 25 aterros espalhados pelo país. Alguns se calhar já não deviam estar a receber lixo há muito tempo. É uma questão de mudar as mentalidades.
– Diz-se que a incineração é inimiga da reciclagem. Comente.
– Não concordo, até porque na prática, a Valorsul, a nível nacional, é aquela que tem maior maior volume de reciclagem e não sou eu, administrador que o diz, é a Sociedade Ponto Verde, a entidade gestora que o recebe. Para mim é óptimo, dá-me algum gozo. A verdade é que a reciclagem tem aumentado, as pessoas estão a aderir e têm de perceber que ao tratar do lixo, estão a tratar da sua própria saúde. Para nós não existe lixo, nada é lixo, é valor acrescentado.
– Dê um exemplo.
– O Parque Urbano de São João da Talha foi feito inteiramente com material reciclado. Produzimos a matéria orgânica que serviu como fertilizante para o parque, o próprio equimento é feito com material reciclado.

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